Última atualização: Maio 7, 2025
Por: Natan Pires

Nessa série de crônicas traremos contos sobre as maiores rivalidades esportivas do mundo. Desviando um pouco os olhares dos maiores centros de futebol do mundo, também se respira o esporte com paixão – e infelizmente com ódio. O Dérbi Eterno da Sérvia ratifica um legado de um País marcado por conflitos e uma divisão política que se perpetua até hoje. Estrela Vermelha e Partizan, donos da maioria dos corações do país, também são os protagonistas de um dos duelos mais sangrentos – dentro e fora das trincheiras verdejantes.


A Crônica

Belgrado respira pelos dois pulmões. De um lado, o Estrela Vermelha. Do outro, o Partizan.

E, no meio, a cidade que vive pela metade desde 1945.
Escolher um time na Sérvia também é uma escolha política. Ambos nasceram em meio à guerra, resistindo ao nazismo, mas cada um escolheu um caminho para continuar lutando.

O Estrela Vermelha surgiu das ruas, da juventude antifascista que queria reconstruir um país devastado. O Partizan veio dos quartéis, criado pelo Exército do Povo Iugoslavo. Os dois nasceram no mesmo ano, com poucos meses de diferença, e nunca mais se desgrudaram.

Até hoje, 271 batalhas foram travadas. O Estrela venceu 117, o Partizan, 82, e 72 ficaram sem dono. Mas contar vitórias é muito pouco para o tamanho do clássico — não se mede o Dérbi Eterno em gols: mede-se em fumaça, vidro quebrado, sirenes e sangue.

O estádio do Estrela é chamado de Marakana — e não por acaso. Ali, mais de 100 mil pessoas já se espremeram para ver os dois lados da cidade se enfrentarem como exércitos em campo aberto. Lá dentro, as torcidas fazem sua própria versão da grande guerra nas arquibancadas. Quando se encaram, o futebol vira trincheira.

Mas não é só no gramado que a guerra acontece. O basquete também sangra. A rivalidade escorre pelas quadras, pelas ruas, pelos bares. O país se divide entre vermelho e preto, entre heróis e coveiros. Em 2008, uma pesquisa contou os corações: 48,2% batem pelo Estrela; 30,5%, pelo Partizan. O resto finge que não escolheu.

O Estrela já foi campeão da Europa. Em 1991, trouxe para Belgrado a taça mais cobiçada. O Partizan chegou perto — foi vice. Mas os títulos não são o mais importante. Desde 1997, só eles venceram o campeonato local. Como se não houvesse mais espaço para outros. Como se apenas essas duas partes soubessem o que é lutar até o fim.

Os jogos têm mais policiais que ambulâncias. Não por precaução, mas por necessidade. Porque ali não se joga futebol. Ali se resolve história. Se desconta o passado. Se vive o presente como se fosse o último apito.

O Dérbi Eterno é isso: a cidade olhando para o próprio espelho — e vendo um inimigo.

Belgrado respira pelos dois pulmões. E os dois ardem

Natan Pires

Graduando em jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Cobri in loco os Jogos Pan-Americanos de Santiago em 2023 e o primeiro jogo da NFL no Brasil. Apaixonado por esportes, Soulslike, Dr. Who e metal extremo.

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