Patrick Mahomes e Jaylen Hurts irão reeditar a mesma decisão que fizeram em 2023.

Não é novidade para ninguém que as grandes ligas americanas estão intrinsecamente ligadas a segregação racial – e a luta contra ela.
O caso mais famoso e emblemático de todo os Estados Unidos – talvez do mundo – seja o de Jackie Robinson. O camisa 42 do Los Angeles Dodgers se tornou o primeiro negro a quebrar a barreira racial no esporte mais tradicional do país na época, o beisebol. Nesse sentido, a história de Jackie é a lembrança viva de um passado que jamais poderá ser esquecido – nem perdoado. O legado de Robinson trespassa o beisebol e inspira os jogadores de todos os outros esportes. Sobre isso, na semana em que Jackie Robinson faria 106 anos, foi também sacramentado apenas o segundo Super Bowl a ser decidido entre dois quarterbacks negros, em toda a história.
O quarterback é, sem dúvidas, a posição mais importante de um time. Ele é o líder dentro de campo, responsável por chamar as jogadas, e suas mãos guiam o ataque. Claro, como todo esporte coletivo, ninguém vence sozinho. É imprescindível o trabalho na linha ofensiva, recebedores e corredores. Mas, sem um quarterback minimamente competente, é bastante improvável que se vença grandes jogos.
Os negros na posição de quarterback
Por muito tempo houve o estereótipo de que o quarterback, líder do time, precisaria também ser um ‘cara’ branco e de boa aparência – pautada pela sociedade estadunidense. Não é preciso ir longe para ver exatamente essa representação nos filmes em que o assunto é citado. No mundo real, os casos não eram diferentes. Contudo, em 2024 a liga registrou um recorde histórico de jogadores negros na posição, com 15.
Michael Vick, Cam Newton, Russell Wilson e atualmente Lamar Jackson conviveram por boa parte de suas carreiras sendo chamados de Running Backs. Claro, sempre foram jogadores que corriam bastante com a bola, o famigerado quarterback scrambler – que tem grande mobilidade. Como esperado, esses comentários nunca foram feitos para jogadores como Josh Allen, que também costuma ganhar várias jardas com suas pernas.
Somente em 1988 Doug Williams se tornou o primeiro QB negro a disputar e a vencer um Super Bowl. No entanto, foi apenas em 2003 que Steve McNair se tornou o primeiro quarterback negro a vencer um prêmio de MVP (jogador mais valioso).
Ainda que sejam minoria, o espaço vem sendo conquistado cada vez mais. Desse modo, a cada temporada é possível observar mais e mais jogadores desempenhando a função central do ataque. Colin Kaepernick liderou os Niners ao Super Bowl, Russel Wilson levou os Seahawks a primeiro título da história da franquia. Da mesma forma, Cam Newton foi MVP e levou os Panthers para a decisão, Lamar Jackson conquistou múltiplos prêmios de jogador mais valioso da temporada, Jayden Daniels surpreendeu a todos em sua temporada de calouro. Por fim, Patrick Mahomes é atualmente o melhor jogador da NFL.
Os protagonistas do Super Bowl
Sobretudo, sobre Mahomes, ele é um daqueles jogadores geracionais, que desde o primeiro ano como titular elevou muito o nível da franquia. Em sete temporadas como titular na NFL, Mahomes chegou ao Super Bowl em cinco oportunidades. Nesse sentido, os Chiefs podem se tornar a primeira franquia na história a vencer três títulos consecutivos.
O quarterback de Kansas City é um atleta que faz você parar a tarde apenas para apreciar o seu jogo, mesmo que não haja nenhum interesse na partida em questão. É como se houvesse mágica em seus movimentos, ou melhor, é como se a magia de todo o esporte estivesse nele. Sinto apenas por todos nós, que não temos um Mahomes em nossos times.
Jalen Hurts tem em sua trajetória uma das mais incríveis histórias de superação. Com um excelente começo na universidade, Hurts liderou Alabama para um título e estabeleceu recordes históricos em jardas corridas. Contudo, no segundo ano de NCAA, após capitanear o time para mais uma final, ele foi posto no banco, para dar lugar a Tua Tagovailoa, hoje quarterback do Miami Dolphins.
O Philadelphia Eagles selecionou o jogador na segunda rodada do draft de 2020. Após a saída de Carson Wentz da franquia, Hurts assumiu com maestria a posição, liderando a equipe a dois títulos da NFC.
Ventos da mudança
No entanto, uma coisa inegável é que o novo sempre vem. As barreiras que nunca deveriam ter existido, são quebradas dia após dia. Os atletas que hoje quebram marcas e escrevem a história, serão heróis e inspirações para as futuras gerações – acreditar que é possível é o primeiro passo.
Pioneiros como Vince Lombardi, o lendário técnico dos Packers que dá nome ao troféu do Super Bowl, são imprescindíveis. Ele foi voz ativa na luta pelos jogadores negros e homossexuais. Contudo, são necessários, também, heróis que representem todas as pessoas.