Com investimentos de John Textor, o Botafogo transformou a própria gestão e conquistou títulos históricos. O departamento de scout, liderado por Alessandro Brito, foi essencial ao identificar reforços estratégicos e acessíveis, consolidando o clube como referência no futebol brasileiro.

Não é segredo que, com a chegada de John Textor ao Botafogo, os recursos financeiros do clube foram ampliados, criando oportunidades antes inimagináveis para o torcedor alvinegro. Consequentemente, em apenas três anos de gestão, o dirigente já investiu quase R$300 milhões, viabilizando a saída do Glorioso das disputas contra o rebaixamento e levando-o ao tricampeonato brasileiro e ao inédito título da Copa Libertadores da América — ambos conquistados na última temporada.
Por isso, esse cenário levanta questões sobre o fair play financeiro no país e até que ponto a injeção de capital é realmente benéfica para a disputa. Foi o suporte financeiro ao Botafogo suficiente para transformar a realidade do clube ou, ao contrário, a gestão como um todo fez a diferença? Neste sentido, entre os diversos setores que evoluíram, optamos por destacar aquele que talvez tenha se sobressaído. Especialmente no Brasil, onde os times têm se tornado mais ricos e dominam o continente, realizando contratações cada vez mais midiáticas e, consequentemente, caras.
Departamento de Scout
Comandado por Alessandro Brito, ex-Atlético-MG e Athletico-PR, o departamento de scout (o que chamamos por aqui de olheiros) tem sido uma das áreas de maior destaque no clube. Anteriormente, antes da aquisição de Textor, a equipe contava com apenas cinco profissionais. Atualmente, possui 19 integrantes, entre eles quatro coordenadores, três scouts profissionais, oito observadores das categorias de base e quatro analistas de desempenho, sendo dois dedicados ao time principal e dois à base.
Em 2023, o clube realizou um trabalho significativo com contratações como Perri, Adryelson, Eduardo e Tiquinho Soares, graças ao departamento. No entanto, no ano anterior, após perder de forma vexatória o título brasileiro para o Palmeiras, o clube desmontou grande parte do time. Restaram apenas Marlon Freitas entre os titulares e Bastos, que, embora não fosse titular, já fazia parte do elenco. Nesse contexto, Alessandro e sua equipe precisaram reconstruir praticamente todo o elenco principal.
O resultado foi positivo: com exceção de Luiz Henrique e Thiago Almada, o departamento identificou e contratou todos os demais reforços a custos acessíveis. Entre os investimentos mais relevantes, destacam-se John, adquirido por R$ 5,8 milhões; Raul, por R$ 40 mil; Vitinho, por R$ 61,3 milhões; Lucas Halter, por R$ 7 milhões; Cuiabano, por R$ 8 milhões; Gregore, por R$ 13,4 milhões; Savarino, por R$ 13,1 milhões; e Matheus Martins, com investimento de R$ 61,1 milhões.
Além disso, o clube contratou alguns reforços sem custos, como Damián Suárez, Barboza, Alex Telles, Allan, Óscar Romero, Igor Jesus e Emerson Urso. Também fez empréstimos importantes, incluindo Adryelson, Pablo, El Arouch e Jeffinho.
Títulos confirmam o bom trabalho
Com o desempenho pífio da equipe em 2023, os resultados precisavam aparecer para confirmar o bom trabalho. E não só vieram, como superaram qualquer expectativa. O Botafogo venceu a liga nacional e a copa mais importante do continente, o que consolidou o trabalho do departamento de scout. Jogadores que chegaram de graça, como Igor Jesus, Barboza e Alex Telles, foram titulares e peças fundamentais nas conquistas dos títulos.
A expectativa era de que os reforços mais caros, Luiz Henrique e Thiago Almada, fossem negociados ao fim da temporada, e isso se concretizou. O Lyon (FRA) contratou o argentino sem custos, enquanto o Zenit (RUS) comprou o brasileiro por 35 milhões de euros (R$220 milhões). O Botafogo manteve 30% dos direitos econômicos do atacante. De quebra, o clube garantiu a vinda facilitada de Wendell e Artur, contratados por 20 e 10 milhões de euros, respectivamente.
Nova tendência?
No Brasil, tudo que gera destaque rapidamente desperta a atenção e acaba sendo replicado. Dessa forma, a estratégia do Time da Estrela Solitária, por exemplo, tem grande potencial para inspirar ou, no mínimo, ser analisada por outros clubes. O Flamengo, maior rival, trouxe para o cargo de Diretor Técnico o português José Boto, que foi chefe de scout e observador no Benfica entre 2007 e 2018. Durante esse período, foi responsável por identificar talentos pouco conhecidos que se transformaram em grandes estrelas, como Oblak e Witsel, além de brasileiros como o goleiro Éderson e Ramires.
Bem como ocorreu com a valorização de jovens treinadores após o título brasileiro do Corinthians em 2017, sob o comando de Fábio Carille; com a busca por técnicos experientes após Felipão vencer o campeonato em 2018 com o Palmeiras; e, mais recentemente, com a preferência por técnicos portugueses após a revolução provocada por Jorge Jesus, o modelo de um departamento de scout mais aprofundado e alinhado à diretoria, desempenhando papel central nas contratações, pode ser a próxima grande tendência. Outros clubes certamente seguirão o exemplo desse trabalho eficiente, que gerou frutos tão expressivos, e as movimentações nesse setor devem crescer nos próximos meses.