Última atualização: Janeiro 23, 2025
Por: Rodrigo Azevedo

Com investimentos de John Textor, o Botafogo transformou a própria gestão e conquistou títulos históricos. O departamento de scout, liderado por Alessandro Brito, foi essencial ao identificar reforços estratégicos e acessíveis, consolidando o clube como referência no futebol brasileiro.

Botafogo e o modelo de sucesso do seu scout
Luis Robayo / AFP

Não é segredo que, com a chegada de John Textor ao Botafogo, os recursos financeiros do clube foram ampliados, criando oportunidades antes inimagináveis para o torcedor alvinegro. Consequentemente, em apenas três anos de gestão, o dirigente já investiu quase R$300 milhões, viabilizando a saída do Glorioso das disputas contra o rebaixamento e levando-o ao tricampeonato brasileiro e ao inédito título da Copa Libertadores da América — ambos conquistados na última temporada.

Por isso, esse cenário levanta questões sobre o fair play financeiro no país e até que ponto a injeção de capital é realmente benéfica para a disputa. Foi o suporte financeiro ao Botafogo suficiente para transformar a realidade do clube ou, ao contrário, a gestão como um todo fez a diferença? Neste sentido, entre os diversos setores que evoluíram, optamos por destacar aquele que talvez tenha se sobressaído. Especialmente no Brasil, onde os times têm se tornado mais ricos e dominam o continente, realizando contratações cada vez mais midiáticas e, consequentemente, caras.

Departamento de Scout

Comandado por Alessandro Brito, ex-Atlético-MG e Athletico-PR, o departamento de scout (o que chamamos por aqui de olheiros) tem sido uma das áreas de maior destaque no clube. Anteriormente, antes da aquisição de Textor, a equipe contava com apenas cinco profissionais. Atualmente, possui 19 integrantes, entre eles quatro coordenadores, três scouts profissionais, oito observadores das categorias de base e quatro analistas de desempenho, sendo dois dedicados ao time principal e dois à base.

Em 2023, o clube realizou um trabalho significativo com contratações como Perri, Adryelson, Eduardo e Tiquinho Soares, graças ao departamento. No entanto, no ano anterior, após perder de forma vexatória o título brasileiro para o Palmeiras, o clube desmontou grande parte do time. Restaram apenas Marlon Freitas entre os titulares e Bastos, que, embora não fosse titular, já fazia parte do elenco. Nesse contexto, Alessandro e sua equipe precisaram reconstruir praticamente todo o elenco principal.

O resultado foi positivo: com exceção de Luiz Henrique e Thiago Almada, o departamento identificou e contratou todos os demais reforços a custos acessíveis. Entre os investimentos mais relevantes, destacam-se John, adquirido por R$ 5,8 milhões; Raul, por R$ 40 mil; Vitinho, por R$ 61,3 milhões; Lucas Halter, por R$ 7 milhões; Cuiabano, por R$ 8 milhões; Gregore, por R$ 13,4 milhões; Savarino, por R$ 13,1 milhões; e Matheus Martins, com investimento de R$ 61,1 milhões.

Além disso, o clube contratou alguns reforços sem custos, como Damián Suárez, Barboza, Alex Telles, Allan, Óscar Romero, Igor Jesus e Emerson Urso. Também fez empréstimos importantes, incluindo Adryelson, Pablo, El Arouch e Jeffinho.

Títulos confirmam o bom trabalho

Com o desempenho pífio da equipe em 2023, os resultados precisavam aparecer para confirmar o bom trabalho. E não só vieram, como superaram qualquer expectativa. O Botafogo venceu a liga nacional e a copa mais importante do continente, o que consolidou o trabalho do departamento de scout. Jogadores que chegaram de graça, como Igor Jesus, Barboza e Alex Telles, foram titulares e peças fundamentais nas conquistas dos títulos.

A expectativa era de que os reforços mais caros, Luiz Henrique e Thiago Almada, fossem negociados ao fim da temporada, e isso se concretizou. O Lyon (FRA) contratou o argentino sem custos, enquanto o Zenit (RUS) comprou o brasileiro por 35 milhões de euros (R$220 milhões). O Botafogo manteve 30% dos direitos econômicos do atacante. De quebra, o clube garantiu a vinda facilitada de Wendell e Artur, contratados por 20 e 10 milhões de euros, respectivamente.

Nova tendência?

No Brasil, tudo que gera destaque rapidamente desperta a atenção e acaba sendo replicado. Dessa forma, a estratégia do Time da Estrela Solitária, por exemplo, tem grande potencial para inspirar ou, no mínimo, ser analisada por outros clubes. O Flamengo, maior rival, trouxe para o cargo de Diretor Técnico o português José Boto, que foi chefe de scout e observador no Benfica entre 2007 e 2018. Durante esse período, foi responsável por identificar talentos pouco conhecidos que se transformaram em grandes estrelas, como Oblak e Witsel, além de brasileiros como o goleiro Éderson e Ramires.

Bem como ocorreu com a valorização de jovens treinadores após o título brasileiro do Corinthians em 2017, sob o comando de Fábio Carille; com a busca por técnicos experientes após Felipão vencer o campeonato em 2018 com o Palmeiras; e, mais recentemente, com a preferência por técnicos portugueses após a revolução provocada por Jorge Jesus, o modelo de um departamento de scout mais aprofundado e alinhado à diretoria, desempenhando papel central nas contratações, pode ser a próxima grande tendência. Outros clubes certamente seguirão o exemplo desse trabalho eficiente, que gerou frutos tão expressivos, e as movimentações nesse setor devem crescer nos próximos meses.

 

Rodrigo Azevedo

Estudante de Jornalismo na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), atualmente no sexto semestre. Apaixonado por futebol em todas as suas formas, dedica-se ao esporte local, nacional e internacional, com um carinho especial pelo Chelsea, o maior clube de Londres.

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