
Nos últimos seis anos, a gestão de Rodolfo Landim no Flamengo conquistou muitos títulos, mas também enfrentou uma trajetória repleta de controvérsias e amadorismo. Decisões questionáveis, especialmente em relação aos treinadores, tornaram-se recorrentes. Apenas Jorge Jesus e, mais recentemente, o promissor Filipe Luís escaparam das demissões. Abel Braga foi outro que evitou esse destino, mas ao pedir para sair, já enfrentava críticas devido ao mau momento do time e declarações que não agradavam, tornando sua saída quase inevitável.
O estrelismo foi outro traço característico da diretoria. Em várias ocasiões, a ausência dos dirigentes foi notada em períodos turbulentos, com aparições restritas aos momentos de conquista. Esses episódios geraram constrangimentos, como no caso da frase “Real Madrid, pode esperar”, dita pelo então vice-presidente de futebol, Marcos Braz, que repercutiu negativamente.
BAP ganha força
É nesse cenário que surge Luiz Eduardo Baptista (BAP), candidato da oposição. Desde sua campanha, ele já criticava o amadorismo da diretoria, tema recorrente em suas entrevistas e participações em podcasts. Na posse da presidência, não poupou palavras ao comentar o episódio da camisa 10 de Arrascaeta, entregue ao jogador no final da gestão Landim:
“A gente deu a camisa 10 para o Arrascaeta e não tem tamanho G, não tem número 10, não tem nome do Arrascaeta, e as lojas não estavam sabendo. O Flamengo deixou de ganhar R$10, R$12 milhões sem fazer isso. Fazer dessa forma é uma prova do amadorismo, é queimar dinheiro.”
Embora BAP não fosse o favorito para vencer as eleições rubro-negras, sua postura séria e cautelosa, com ênfase no profissionalismo, animou a torcida com a perspectiva de um Flamengo mais organizado. Nem mesmo os 13 títulos conquistados pela antiga gestão foram suficientes para eleger Rodrigo Dunshee, vice de Landim e candidato da situação. Com 52,90% dos votos, os sócios elegeram BAP como novo presidente.
Um Flamengo com menos recursos
Apesar de assumir a presidência do clube com a maior arrecadação do Brasil, BAP enfrenta um cenário desafiador. A antiga gestão deixou como herança um contrato que obriga o Flamengo a construir um estádio no terreno do Gasômetro, adquirido por R$170 milhões. Além do custo da compra, a construção da arena exigirá pesados investimentos. Como se não bastasse, parte do orçamento de 2025 já foi comprometida na janela de transferências do meio de 2024, em uma tentativa de minimizar os prejuízos causados por lesões de jogadores como Pedro e Everton Cebolinha.
Com um orçamento reduzido, a nova diretoria precisará adotar estratégias criativas para reforçar o elenco. Isso significa buscar soluções mais econômicas e evitar grandes gastos. Ainda assim, BAP já vem cumprindo algumas promessas. Na apresentação do novo diretor técnico, José Boto, apenas profissionais de comunicação estavam presentes, sinalizando que seu trabalho será mais discreto e focado nos bastidores.
José Boto: O braço direito de BAP
O novo diretor técnico do Flamengo, o português José Boto, chegou ao clube no final do ano passado e já deixou claro que veio para implementar mudanças profundas. Em sua apresentação, enfatizou a necessidade de reestruturação em todas as áreas do clube, desde as categorias de base até o time principal. Questionado sobre o futebol feminino, admitiu não ter experiência no assunto e prometeu deixar essa responsabilidade para profissionais especializados.
Suas ações já começaram a surtir efeito: houve uma série de demissões em áreas diversas, incluindo a saída de Márcio Tannure, que estava no clube há 23 anos. Além disso, criticou o excesso de jogadores nas categorias de base e anunciou que mudanças serão feitas nesse setor. Outro problema antigo do clube, os chamados “x-9s” (responsáveis por vazar informações), também será tratado com rigor. Para evitar novas exposições, ele restringirá o acesso de conselheiros e familiares de jogadores aos treinos e viagens.
E a filosofia de Boto?
José Boto prometeu uma abordagem clara e rigorosa nas contratações, evitando grandes investimentos em jogadores renomados apenas para agradar torcida e imprensa. O dirigente planeja implementar um trabalho de scout mais criterioso do que o realizado nos últimos anos pelo clube. Entre os desafios que Boto deve assumir está a busca por talentos em mercados menos explorados e com valores acessíveis. Um exemplo bem-sucedido dessa filosofia foi Pablo Marí, contratado em 2019 por € 1,2 milhão (cerca de R$5,3 milhões à época) e que, posteriormente, rendeu ao Flamengo R$52 milhões em vendas e bônus.
O Flamengo adotará essa filosofia?
Tudo indica que sim. Após admitir que o clube enfrenta restrições financeiras, a primeira contratação do Flamengo para 2025 foi Juninho, atacante de 28 anos vindo do Qarabag, do Azerbaijão, no qual o Flamengo pagará € 5 milhões ( R$31 milhões de reais). Outra possível adição é Jorginho, ítalo-brasileiro de 33 anos que atualmente está no Arsenal, mas vive um mau momento e possui apenas 9 jogos como titular do time na temporada. Apesar de parecer uma contradição com a filosofia de Boto, Jorginho poderia chegar sem custos, já que possui um acordo de rescisão amigável com o Arsenal. O jogador também demonstrou interesse em atuar no Brasil, mencionando Flamengo e Palmeiras como possíveis destinos, sendo que o último já descartou a negociação.
O novo projeto da diretoria rubro-negra parece bastante promissor. Inicialmente, o clube demonstra interesse em trabalhar de forma sustentável e com consciência de seus limites. Resta saber se os diretores irão colocar todas as palavras e promessas em prática ou se, assim como em outras gestões, tudo ficará apenas no papel.
O jornalista mais lindo e talentoso desse mundo, te amoo ❤️🔥
Que matéria incrível, uma das melhores que eu já vi 👏🏻👏🏻👏🏻
Muito bom